30 de abril de 2013

O CERNE



Descansar o pé no alpendre, pender a cabeça para dentro do livro.
Aprender a ser livre sem querer o certo, por nele já se estar.
Elevar a fé, balão a gás, aos céus até se encontrar, perdendo de vista.

Folhear revista dos anos passados em sala de espera é estar visionário.
O escapulário da vizinha distrai o desconforto de olhar para o teto do elevador.
O humor está zen desde que substituiu o Amém pelo Assim Seja.
Mas na bandeja de frios ainda há essa solidão em brasa.
A confundir coração com pão e repartir para qualquer morto.
Na repartição, ninguém sabe o seu nome.
Pelo telefone, disfarça a fome de desligar.
Engole a asa do frango no almoço como se prestes a voar fosse.
Rasantes e depois ortopedista com método DeRose.
Pediu para cair em si e estatelou.

Tentar de novo é esperar sarar o roxo do terceiro olho.
Olhar adiante é operar a vesgueira com as duas mãos.
Acenar como quem chama menina dos olhos a brincar.

25 de abril de 2013

FUTILEZAS

Como é que eu posso querer provar o que é verdade, se o fato já foi posto à prova feito roupa estendida? Sendo grande, a silhueta afrouxa, como a de quem não cabe em si. Os ajustes se fazem no espírito através do corpo, um molde, que mesmo banhado a baldes, não encolhem. Seu tamanho é único, o experimento é vário. Reveste todo um armário de peças, como se o nu fosse morrer fácil de frio, como se fossemos máquinas, como se aparelhássemos o roubo inteiro de um robô feito filhos cheios de fios soltos. Mas ainda estamos presos. Há marras. Querem a máscara por detrás dos cosméticos por detrás das peles, pelos e poros. Cômicos da tragédia fofocada nos salões de beleza. Arrancam-se apenas cutículas, deixam-se unhas roídas recobertas pelas de porcelana. Ficam todas umas bonecas! Usam perucas para não se apiedarem de suas carecas cancerosas. Existir a cura existe, porém insistem no elixir das repartições públicas ao lixarem suas carnes mortas, ao escovarem seus couros. Antes de evitar a queda do cabelo, poderia-se evitar de ir na cadência das décadas. Enquanto a decadência for moda, a essência permanecerá presa nos frascos de perfume e a dor se fará perceber pela falência múltipla dos órgãos. Odor de vivo é pior que de cadáver, quando já começa a cavar a própria cova com futilezas cotidianas. É-se sutilmente fútil.  Sentiu? Trocam receita de bolo envenenado entre dondocas, fazem propaganda de escarro novo, injetam o vício da compra nos pobres-diabos, empregam terapeutas, prostitutas ocupacionais do tempo alheio. Olho no olho nunca, só de entremeio. Pisca pisca desligado, atropelado na paquera. Sorria quando não estiver sendo filmado. Soslaio é fuga aos lacaios do sistema. Você foi propagado no ar em ondas curtas. A transmissão sanguínea foi suspensa pelos Testemunhos do Jeová. SHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSHSH

23 de abril de 2013

FRACTAL

Igor Voloshin

Desfragmentar o disco rígido
Regenerar o pensamento mágico
Humanizar a lógica num silogismo
Tontear o verbo num circunlóquio
Desmascarar o Fantasma da Ópera
Operar o nariz do Pinóquio
Impessoalizar a personagem
Sendo a própria senda do psiquismo

19 de abril de 2013

EXPURGO


Lágrimas ao mar
Esgrima entre lâminas geladas
Estalactite com estalagmite
O dedo cria dor na criatura
Tal Da Vinci a pincelar feridas
Que, por sobre elas,
Um homem comum jogaria sal

Mal nenhum há em salgar o oceano
O ser humano só recolherá o pranto
Quando a ele bastar sua profundidade

16 de abril de 2013

MOBILIDADE

PARA ILUSTRAR: Acima, Bono (U2) assume o personagem mais sarcástico do showbusiness mundial: Mr. MacPhisto, um capetalista envaidecido pelo sistema, recordista de audiência na ZOO TV tour, dos anos 90. É uma mistura entre Mefistófeles (o diabo para o qual Fausto vendeu sua alma, no livro de Goethe) e MacDonald's, sugerindo que é apenas mais uma invenção americana que tenta nos vender pela televisão. Abaixo, temos o Beatle Paul McCartney antes de se tornar Sir.
ZINE MEU UNIVERSO #4 (2004)

15 de abril de 2013

PARA QUÊ?

Rotten Theaters by Ivan Prieto
Para que homens se existem pepinos?
Para que os hinos se hão os louvores?
Para que chão se o melhor do avião são os bimotores?
Para que refletores se existe luz própria?
Para que casar se o descaso de amor mais pleno é solidão?
Para que ficar sozinho se o cachorro te lambe a falta?
Para que esmaltar os dedos se teus medos fazem roer as unhas?
Para que tantos segredos se posso violar o cofre?
Para que ele sofre se vai morrer logo cedo?
Para que velório se Deus já assoprou a vela?
Para que cantar Brasileirinho se o canário é belga?
Para que folga se o trabalho de estender a rede é árduo?
Para que computador se a internet caiu e nunca mais voltou?
Para que pular corda se Tiradentes foi enforcado?
Para que dentes brancos se o molho virou tártaro?
Para que tortura se sadomasoquismo é prazer?
Para que tantos paraquês?

14 de abril de 2013

PINTURA

Anton Marrast


Pelada, tomava banho de tinta guache
Com a ducha à mão pincelava o corpo
Dava cor à clara tez empedernida 
Com o púrpura despia seu branco
Descobriu pureza na pele colorida

13 de abril de 2013

ARDILOSO LEITO

Se eu não "batia bem do pino", hoje vim opinar sobre ele. 
Desatino agora desatando todo mal que outrora me atinha.

ZINE MEU UNIVERSO #09 (2005)   

12 de abril de 2013

HOTEL SOLIDÃO


ZINE MEU UNIVERSO #09 (2005)  

The Million Dollar Hotel (O hotel de um milhão de dólares) é um filme norte-americano de 2000, baseado na história de Bono, da banda irlandesa U2, também produtor da película, e Nicholas Klein. Foi dirigido pelo grande Wim Wenders.

11 de abril de 2013

SORRIR COM OS OLHOS

Alma aberta. Uma janela é a melhor parte da casa. Além de arejar o interior, sabe conviver com o outro lado. É passagem. Por vezes, enfeitada com flores na sacada, não se incomoda com corpos estranhos, pois são todos conhecidos. Bem-vindos!

ZINE MEU UNIVERSO #09 (2005) 

10 de abril de 2013

INCOMPLETUDE


ZINE 
MEU UNIVERSO #10 (2005) 

O termo "Zine" é oriundo da palavra "Magazine", mais precisamente uma abreviação para "Fanzine" (fanatic magazine ou revista editada por um fã) - tipo de publicação independente bastante usual aqui no Brasil na década de 60. Criado nos EUA em 1929, foi difundido pela Europa e por outros países para tratar, inicialmente, de histórias em quadrinhos. Logo, o aspecto gráfico diversificou junto às temáticas de cunho artístico-cultural, alargando suas formas de expressão. As postagens deste blog no presente mês estarão pautadas em minhas produções de Zines ao longo da vida universitária. A maioria dos escritos será marcada por uma presença acentuada do meu Eu-Lírico, de cunho poético, filosófico, psicológico e espiritual, gerando o autoconhecimento.

9 de abril de 2013

DIVINDADE

Programados para vencer sem tremer as bases, onipresentes nos lugares menos visitados, brincando de soltar pipa na beira do mais alto precipício, praguejando contra uns e outros. Fiéis de si mesmos, curvam-se à própria ilha em afogamento batismal.
ZINE MEU UNIVERSO #10 (2005) 
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8 de abril de 2013

AOS MORTAIS

 Fiar-se à carapaça é vestir a carapuça. No escuro não se vê o espírito desfiar.
ZINE MEU UNIVERSO #10 (2005) 

7 de abril de 2013

BANCO DE DADOS

Aos 20 anos escrevi esta crônica sobre encontros marcados pela temporalidade. 
A releitura me propõs alguns questionamentos: Até quando teremos nosso lugar guardado? Algum "para sempre" haverá na memória, sabemos. Pela presença de um enorme banco de dados. Mesmo que no jogo de azar lancemos os viciados, a impressão é de permanência por tanta mutabilidade. Relogiosamente...
Parece simples. O que um esquece, o outro lembra!

ZINE MEU UNIVERSO #10 (2005) 

6 de abril de 2013

OLHARES SOBRE O FEMININO



Do psicologismo profundo à observação mais sensível se expande o poder e a fragilidade de se ser humano, genuinamente, feminino - batônico, seioso, sensacional!

ZINE MEU UNIVERSO #10 (2005)

5 de abril de 2013

TOQUES

Nas reviravoltas que a vida dá, nesse constante defrontar comigo mesma - já que ninguém escapa de si - resolvi destrancar o baú. Em intensa colheita de como eu era, a fim de fazer um resgate até aqui, acabei encontrando zines confeccionados à época de minha graduação na faculdade de Letras, da Universidade Estadual do Ceará - UECE, a partir do ano de 2003. Com isso, pretendo me presentear com o passado, aceitando-o com carinho, comungando um tanto de nostalgia na companhia dos que me liam e dos que, não mais os mesmos, hoje também me leem. Para os que me conheceram há pouco ou ainda irão me conhecer a leitura, dedico este despertar com igual ternura, na sugestão amiga do autoconhecimento a quem desteme o espelho.

4 de abril de 2013

EGO


Sofro de EUmorragia,
Estou entre a vida e a sorte
Falando demasiado sobre mim
Assim como as anêmonas 
Sofrem de anemia
Mas elas vivem no mar
Meu sangue escorre na pia
Pinga do nariz 
Por não respirar o dia a dia
Com desprendimento
Descolei o cartucho
As fossas nasais 
Escoaram pelo cano
À base de tinta ágape
Que mancha os papéis atuados
Por meus personagens
Impressões vermelhas
Estressam as retinas
Por tanto derramamento de langue
Melhor fazer voto de silêncio
Afundar o si no mangue do vizinho
Para um novo batismo à luz do dia
Sem culpa, transe hipnótico, nem EUcaristia

3 de abril de 2013

CONDENAÇÃO

Corda para pular ou para adornar o pescoço?
Acorda!
Trança foi feita para escalada do mais corajoso
Chega de bancar a rainha da França
Saia do castelo e seja seu próprio herói
Assim, não dói e nem cansa: é gozo.

2 de abril de 2013

ARREGALADA






















Naufragar é preciso, 
Aportar o seguro na vastidão das possibilidades
Sem ancorar atitudes pretéritas, muito menos beatitudes
Santificar não é humano, errar é quase divinal
O perdão fica para si mesmo, nunca a esmo
Porque o outro, assim como o amanhã, é incerto
Haverá sóis maiores e mais quentes
Queimaduras de quinto grau
Luas que o globo ocular e terrestre pressentem
Mas ainda não alcançam
Reencarnar nesta vida - a de agora - é assumir o espírito
Esperar o amanhã para o aperfeiçoamento é procrastinar
Ser, recheado de incompletudes, é saber realizar
Aceitar-se é a receita