6 de novembro de 2011

Diário de um abandonado



“Eu sou.
Eu és.
Eu é.
Eu somos.
Eu sois.
Eu são.

Para sobreviver, é assim que a gente tem de aprender a conjugar o verbo ser. Não é fácil, demora um pouco, não adianta repeti-lo muitas e muitas vezes, até que ele fique tatuado na cortiça da alma; é preciso acreditar. E o mais difícil é acreditar. Mas quem conseguir poderá dar o passo seguinte e aprender a conjugar o verbo amar para não se dar por contente só com sobreviver, para triunfar, para que seus desejos digam à realidade o modo como deve se desenvolver:

Eu me amo.
Tu me amas.
Ele me ama.
Nós me amamos.
Vós me amais.
Eles me amam.”

3 de novembro de 2011

ENCARECIDA


Triste de chorar um choro engravatado, por não saber amar como manda o figurino.
Nó na garganta, borboletas que ainda não se desprenderam d'um estômago uterino.
Dessas lágrimas entre lábios, tanto sal dá sede como tu me embebedas de saudade.
A verdade é que eu também desaprendi a dançar, por todo esse tropeço em laços.
Tentei até caminhar com teus sapatos, criei caso com calos nos pés, levantei, caí.
Louca de pedra que encontrastes no meio do caminho que bifurquei, saindo por aí.
Sã não sou mais entre ouros de Midas, com orelha de burro e canção embevecida.
Minha grandiloquente coragem cuida da tua distância através de janelas com grade. 
É agora por onde passa a imagem dessa ânsia por ver-te além, ao invés da partida.
Só disfarço alarde por me arder sem que outro me diga à cara que gosta e apanha.
Arranhas o peito d'uma covarde que a ti estranha, entreolhando o futuro destarte.

2 de novembro de 2011

Girassol x Giralua

Paola Benevides
Neste planeta, sobrevivência 
Sem sobra de dúvidas nem sombras em água. 
Gastos e desgastes a troco de gostos novos. 
(- Com pá, lavras a Terra?)
É a prova para dar. Paladar em teste. 
Pupa e crisálida quem souber voar.
Assim, plantar para colher, colher para mexer 
A sede com o quente desse chá.
Herança da relva crispada
Mas cheia de pólen, dentes-de-leão e sementes.
A muda dança, move-se para crescer em busto e Ar: arbusto de perecer. 
Embuste solar para um girassol tão carente de luz Que sua pelo caule já.
Murcha, a flor vira cruz serpenteada pela erva Daninha aos túmulos esquecidos. 
Giralua resistirá um dia, mesmo calada, renascendo Em hortas pelos jazigos.
Guiada via satélite, abrirá suas pétalas pálidas 
Em direção às estrelas mortas.